Ator, diretor, cantor, bailarino e coreógrafo: essas são algumas das formas como Jonathan Serafim expressa sua arte. Nascido em São Paulo, realizou sua graduação em Teatro na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e, hoje em dia, vive em Entre Rios de Minas/MG.
Encantado pelo mundo das artes desde pequeno, desenvolvia coreografias, performances e produzia conteúdos multimídias a partir de referências que conhecia através da TV e da internet. Atualmente, Jonathan cria realidades alternativas através de suas produções em diferentes áreas.
Saiba mais sobre a trajetória do artista polivalente lendo a entrevista abaixo. A conversa foi coordenada pela arte-educadora Elis Ferreira, como parte do Arte Por Toda Parte Entre Rios. Confira!
Qual atividade cultural você realiza e há quanto tempo?
Atualmente, trabalho mais fortemente com a dança, coreografando videoclipes, performances de artistas pop e espetáculos. Além disso, realizo outros trabalhos relacionados à direção e à coreografia de movimento.
Comecei a trabalhar profissionalmente com dança aos 19 anos e, desde então, nunca parei. Já fazem quase 7 anos... Nesse período, passei por alguns coletivos, grupos e instituições que me fizeram crescer muito enquanto bailarino, intérprete e criador.
No entanto, a dança não foi a primeira linguagem artística que estudei e me apaixonei. Na verdade, ela veio por intermédio do teatro musical: uma paixão que tenho desde o 3º período do curso de Teatro, que fiz em São João del-Rei. Nessa época, eu era fascinado por essa linguagem artística e queria a todo custo me aprimorar; não só no teatro mas também na dança e no canto.
Então, comecei a estudar todas elas. Estudei canto no Conservatório da cidade e dança na Escola de Dança Sabrina Margotti. Depois de um tempo, as coisas foram mudando, desabrochando e eu já não sabia quando dançar ou quando atuar. Tudo virou uma única coisa dentro de mim, ao mesmo tempo que estou dançando e eu estou representando.
Nas minhas performances, busco sempre trazer um pouco de tudo que me faz completo enquanto artista.
Conte um pouco sobre a sua história com as artes.
Por morar em uma cidade grande e não ter muitos recursos financeiros para ter uma rotina intensa de atividades culturais e esportivas, sempre fui uma criança da TV. Lá eu sempre via de tudo um pouco e o que me encantava nas coisas que eu assistia era como tudo aquilo era grandioso.
Além disso, o fato de tudo ser criado e de certa forma irreal, me encantava mais ainda. A possibilidade de criar outras realidades, sem compromisso com o real e o lógico, me deixava entusiasmado e cheio de vontade de fazer também. E eu fazia.
Minha distração quando criança era reproduzir os enredos, coreografias e cenas com os meus brinquedos. Eu também promovia pequenos eventos dentro de casa, em que o público era a minha mãe, o meu padrasto e a minha irmã. Na época, um público bem ativo e participante nas encenações. (risos)
Depois, quando eu fiquei mais velho, passei a buscar formatos mais “maduros” para aquilo que eu gostava de fazer e, como já tinha acesso à internet e outros canais de pesquisa, passei a buscar coisas mais específicas e que estavam mais ligadas ao que o meu corpo se identificava. Esse foi o momento em que me interessei pela cultura pop.
E o que chamava a sua atenção no mundo pop?
O jeito que aquelas pessoas se moviam, cantavam e se posicionavam diante do público sempre pareceu incrível para mim. A versatilidade e a possibilidade de ser um ou vários ao mesmo tempo me encabulava... Então, eu já sabia que era por ali que eu devia caminhar.
Por isso, no Ensino Médio, comecei a estudar design e multimídia. Eu trabalhava com edição e captação de imagens, fotografia e vídeo. Nesse período, queria aprender as técnicas que faziam as mágica que via na TV e usar tudo para fazer mágica com a minha própria imagem. Queria encantar as pessoas através do olhar, sensibilizar através do som: queria ser um artista!
Como foi o caminho a partir disso?
Quando fui para a faculdade, primeiro tentei ingressar no curso de Jornalismo porque me parecia a coisa financeiramente correta a fazer. Eu acreditava que aquilo era muito distante da minha realidade “social”. E que, mesmo tendo talento, dom e todas essas coisas que as pessoas falam, precisava de algo que me trouxesse segurança financeira.
Mas, por obra do destino ou da minha teimosia, fiquei como excedente e resolvi tentar Teatro. Passei e nunca mais acompanhei o processo do curso de Jornalismo. No Teatro, fui descobrindo diversas outras habilidades que eu tinha e que poderiam ser trabalhadas.
O meu corpo era uma grande potência, ele sempre foi muito mais eloquente, se expressou melhor e se destacou mais do que a minha fala. Então, passei a trabalhar isso de forma mais incisiva. Com isso, depois vieram o teatro musical, a dança e o canto.
Conte uma curiosidade ou fato marcante na sua trajetória.
Um fato que me marcou bastante foi um episódio bem simples que aconteceu quando comecei a me envolver com performances e com a dança comercial.
Estávamos minha mãe e eu no meu quarto. Ela estava usando o computador e eu estava ouvindo algumas músicas que gostava em um radinho que tinha na época (de pilha). De repente, começou a tocar uma música que eu amava e ainda gosto muito, a “When I Grow Up”, de um grupo americano de mulheres que se chama Pussy Cat Dolls.
Como eu sabia toda a coreografia, sempre que a música tocava eu já começava a dançar. E nesse dia não foi diferente. Só que eu não ficava feliz em só reproduzir a coreografia, tinha também que encenar a performance inteira das artistas: incluindo triangulação com o público, pausa “dramáticas”, canto, falas no meio da canção e por aí vai… Eu simplesmente mergulhava no universo proposto pela música.
Quando a música e, consequentemente, minha performance acabaram, olhei para a minha mãe e ela estava parada, me observando tão atenta que eu tive a impressão de que ela tinha visto tudo e que, de certa forma, eu tinha uma espectadora. Fiquei morrendo de vergonha!
Aí, ela me olhou e falou: “O que é isso?”. Eu respondi dizendo que era a coreografia que as mulheres dançavam na performance da música e ela respondeu: “Aaah! Chique”. Nem preciso dizer que mesmo morto de vergonha fiquei muito feliz pela palavra “chique”.
Acho que nunca vou esquecer esse episódio porque ele envolve uma característica muito importante da minha personalidade artística, que é a espontaneidade. E que, infelizmente, a academia me roubou 90%. Quando aprendemos a nos criticar e analisar fica difícil ser espontâneo...
Há mais pessoas envolvidas no seu trabalho artístico?
Por enquanto, só de maneira informal. Conto com a ajuda de amigos e alguns familiares na produção dos meus projetos, entre eles: Adriana Serafim, Marcelo Fernandes, Stephanie Santana, Ronan Morais Penna, Giselle Mara, Joyce Lopes, William Francisco, Yolanda Jaqueline, Guilherme Carvalho, Black Jack e Nega Jackie.
Sempre que eu estou dançando e atuando me sinto vivo.
Como você se sente ao realizar sua arte?
Hoje em dia, há poucas coisas que fazem sentido para mim. Passei por períodos muito intensos durante a minha formação e agora, durante o processo de busca por estabilidade financeira, acabei adoecendo.
Posso afirmar que só sou completo quando estou em movimento, criando outras realidades, vivendo outras personalidades e me apresentando. Porque assim as coisas passam a fazer mais sentido e são mais coloridas do que na minha realidade.
O Conto de todos os cantos sobre Entre Rios de Minas é patrocinado pela Vallourec via Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Entre Rios e Lei de Incentivo à Cultura.
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