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Conto de todos os cantos: Geraldo Coelho



Cavaleiro com muito orgulho, Seu Geraldo Gonçalves é presidente da Associação dos Corredores de Cavalhadas de São José Operário do distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima/MG.


Contador de histórias e com uma memória incrível, Seu Geraldo lembra de diversos momentos e experiências que teve devido à sua participação e de seus colegas na Cavalhada. Sempre preocupado em manter a tradição, luta pela manutenção e reconhecimento do evento na cidade e na região.


Leia abaixo a entrevista realizada pelos arte-educadores Pablo Araújo e Fernanda Nascimento com o Seu Geraldo e conheça um pouco mais sobre a história da Cavalhada de São José Operário!



O senhor poderia comentar a origem das cavalhadas?

As cavalhadas foram trazidas para o Brasil em 1600. Existem histórias de que, em Pernambuco, já havia cavalhadas nesse período. Mas a nossa Cavalhada tem raízes nas cavalhadas de Ouro Preto e Amarantina, que são de 1723 ou 1728, se não me falha a memória.


Na época, como existiam muitos funcionários na mineração da empresa Saint John Del Rey, eles vinham muito pra cá [Nova Lima]. Com isso, houve o interesse de fazer esse movimento em Honório Bicalho novamente. Então, através dessa influência da mineração, nós iniciamos a nossa Cavalhada em 1957.


Como foi esse processo de fundação da Cavalhada de São José Operário?

Ela foi fundada oficialmente em 1957 por um grupo de 26 pessoas com destaque para o Sr. Benedito Pereira Matos e sua irmã, Dona Julinha. No dia 28 de julho de 1957, eles se reuniram na Igreja de São José Operário de Honório Bicalho, e ali criaram a Associação de Corredores de Cavalhadas para controlar o evento Cavalhada São José Operário. A partir daí, ela aconteceu direto durante 20 anos.


O tempo corrói. As pessoas vão falecendo e é a vida, né? Com isso, houve uma interrupção por dificuldade da época e a Cavalhada foi interrompida, sendo reiniciada em 28 de agosto de 1988. Então, ela aconteceu em 1988 e 1989 e depois, na década de 1990, foi paralisada novamente. Eles reabilitaram ela, mas a estrutura não deu muito certo. Às vezes movimentos políticos tentam usufruir do poder do movimento cultural.


E como foi ocorreu a retomada da Cavalhada?

Fui convidado a ajudar na reabilitação da Cavalhada São José Operário, em 1999. Nós fizemos estudos e reuniões com algumas pessoas que já participavam das cavalhadas anteriores, assim como envolvemos outras que tinham interesse e eram parentes dos anteriores. Com isso, em 2000, nós reabilitamos a Associação.


Criamos um novo corpo de comando e controle, porque é muito difícil manter uma estrutura grande como essa organizada: os uniformes, os cavalos, os enfeites dos uniformes, dos cavalos e dos cavaleiros… É uma mutação danada!


A gente tem que estar sempre atualizando a estrutura [da Cavalhada] e não pode deixar de apresentar um fardamento bonito, porque a beleza também está na organização.

Em 2019, com o objetivo de fortalecer o nosso movimento, contratamos uma empresa para registrar a Cavalhada, fazendo dela um bem cultural imaterial do município. Então, ela foi registrada pelo decreto 9.522 de 4 de novembro de 2019, como bem cultural de natureza imaterial. Isso trouxe um grande ganho para a Associação e para a própria Cavalhada. Hoje em dia, além de fazermos o evento, também geramos ICMS Cultural para Nova Lima.


Como são os preparativos e como acontece a Cavalhada?

Para fazer a Cavalhada, nós precisamos de 24 cavaleiros, dois reis, uma princesa e mais um ou dois palhaços. E, para que não tivéssemos mais dificuldades para reunir essas quase 30 pessoas e seus cavalos, nos unimos aos cavaleiros de Raposos e de Rio Acima para compor todo o elenco do evento.


Apesar disso, a dificuldade ainda era grande porque nós tivemos que dar estrutura para que esses cavaleiros viessem, para manter os cavalos tratados… Isso é muito complicado, mas conseguimos fazer tudo com o apoio de muitas pessoas.


Há algum fato curioso que já tenha acontecido na Cavalhada?

O movimento da Cavalhada é totalmente ligado à Igreja Católica. Todas as vezes que fazemos o evento, a maioria dos cavaleiros vai à Igreja São José Operário, beija a porta, pede proteção e volta para a arena. Mas teve um ano em que aconteceu um fato pitoresco.


Nós estávamos iniciando o movimento e, na entrada da arena, colocamos umas chamas com foguinhos de mão. À medida que os cavaleiros iam entrando, a gente colocava a chama na mão deles já acesa para fazer um movimento com luz. Só que um dos cavalos se assustou muito e saiu da arena com o cavaleiro que era o nosso embaixador. O cavalo correu para a rua, onde havia carros e muitas pessoas. Então, o cavaleiro gritou: “São José nos proteja!”, e o cavalo parou em cima do passeio.


Depois disso, eles entraram para a arena sem problema nenhum e tivemos a Cavalhada normalmente. Esse cavaleiro é vivo ainda hoje e é um dos membros da Associação da Diretoria da Cavalhada. Ele registra isso como um milagre.

 

O Conto de todos os cantos sobre Nova Lima conta com o patrocínio da Vallourec via Lei de Incentivo à Cultura.

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