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Conto de todos os cantos: Choro de Lamparina


Três homens e uma mulher com seus instrumentos na mão: cavaquinho, pandeiro, flauta e violão.
Integrantes da banda Choro de Lamparina. Créditos: Reprodução/Redes Sociais

Com nome em homenagem a um doce típico de Nova Lima/MG, o Choro de Lamparina foi fundado por ex-alunos da Escola de Música José Acácio de Assis Costa, em 2011. Tendo o objetivo de promover encontros para o estudo do choro, o grupo se propõe a difundir o repertório do gênero instrumental.


O conjunto é formado pela flautista Alice Valle, pelo violonista João Morales, pelo cavaquinista Ângelo Júnior e pelo Paulo do Pandeiro. Durante os dez anos de trajetória, eles já se apresentaram nos principais projetos de cultura nova-limenses, como: Sexta na Feira, Música Didática e Mostra Cultural de Nova Lima.


Confira a entrevista realizada pelo arte-educador e músico Pablo Araújo com o Choro de Lamparina e conheça a trajetória do grupo na cidade e região. Siga a leitura!



Quando e por que vocês formaram o Choro de Lamparina?

Alice: O grupo surgiu em Nova Lima. Todos os integrantes participavam da Escola de Música José Acácio de Assis Costa. Na época, em 2010 ou 2011, a gente fazia aula de instrumentos, sendo a maioria de nós alunos do Chico Ávila, um grande “chorão” [maneira de referir-se a músicos do gênero choro]. Ele era multi-instrumentista, dava aula de cavaquinho, violão e flauta.


No meu caso, ele começou a dar aulas de flauta e a me mostrar o choro quando eu tinha 15 anos. Até então, eu só tocava músicas eruditas, em orquestra. E foi quando eu me apaixonei pelo choro.


Posso dizer que foi com o Choro que eu realmente comecei a estudar música para levar como um caminho mais sério. O Chico montou um grupo de estudos de choro, era como se fosse uma vivência de roda. Então, toda semana, trazíamos o repertório de cada um, a gente ia fazendo arranjo, e eu tocando.


Assim, começamos a fazer muitas apresentações na cidade, tanto em projetos da Escola de Música como em bares e nas rodas em casa. Foi através das vivências que a gente foi se tornando um grupo. Com o tempo, pensamos o nome do grupo e assim surgiu o Choro de Lamparina, pois a lamparina é um doce típico de Nova Lima. Ele foi criado aqui e é uma receita que mistura ingredientes brasileiros e ingleses, devido à forte influência inglesa na cidade.

A banda se apresenta em uma quadra escolar com dezenas de alunos como expectadores.
Apresentação do conjunto no Projeto Música Didática em Nova Lima (2013). Créditos: Reprodução

Qual o papel da Escola de Música para o grupo?

João: No início todos nós começamos a tocar choro na roda que acontecia na Escola de Música e foi muito importante ter esse lugar para que a gente pudesse se encontrar e tocar. A Escola foi fundamental para o nosso encontro, pois antes ninguém se conhecia.


Alice: Então, as coisas, elas são movidas a partir do encontro, do fazer, do aprender na roda de choro. E a outra coise é muito importante é pensar a Escola de Música como o ponto de encontro da cidade. Pois, além de ser parte da nossa história, ela é muito importante para os músicos da cidade. Nela se formaram muitos muitos músicos que fizeram faculdade ou que são profissionais. Acho que ela sempre foi esse ponto de partida.


Qual a importância de um grupo de choro dentro da cultura de uma cidade?

Alice: Acho que a primeira coisa que me vem à cabeça é que o choro é um gênero que abarca todo mundo. Vamos construindo essa forma de pensar, de abarcar todas as pessoas não importando a idade, gênero, credo, raça…


Nosso grupo serviu para realmente mostrar uma música diferente para a cidade. Nova Lima tem uma escola que oferece aulas de música, dança, teatro, só que hoje as coisas estão meio desandadas. Mas, por muitos anos, foi feito esse trabalho de crescimento de público, de levar cultura para as pessoas. Então, na nossa história, a gente fez muita apresentação para as pessoas da cidade.


Além disso, o choro traz alegria e as pessoas têm uma identificação muito rápida. Sinto que é nosso papel como músicos e musicistas mostrar, levar isso para as pessoas. E nesse contexto que a gente está agora, este papel é ainda mais importante, porque a música cura de muitas formas, ela lembra as pessoas onde elas estão, quem elas são e traz esses momentos de felicidade.


Seis músicos se apresentam em um palco.
Apresentação na Mostra Cultural no Teatro Municipal de Nova Lima (2014). Créditos: Reprodução

Como que um grupo de choro ocupa um lugar dentro da cidade?

João: O choro está no nosso imaginário, parece que está no nosso DNA. Esse gênero tem um impacto muito interessante. Uma questão também é o espaço da praça onde muitos outros grupos de choro e muitas bandas operárias se apresentaram. Isso também perpassa o imaginário das pessoas da cidade.


Certa vez, a gente tocava na praça principal de Nova Lima e as pessoas se aproximavam mesmo que não conhecessem qual era a música. Parecia que elas já haviam escutado alguma vez na vida. Eu acho que isso é o poder do choro e da música brasileira, de forma geral. É o poder de colocar todo mundo junto, de unir a todos.


O espaço da música instrumental é muito reduzido e há pouco investimento para ela se desenvolver, o que faz certos nichos desse movimento ficarem muito isolados. Mas acho que não é particular de Nova Lima e, sim, um sintoma de várias cidades. — João Morales

Cinco músicos sorrindo em uma praça com seus instrumentos.
Choro de Lamparina no projeto "Sexta na Feira", na Praça Bernardino de Lima (2015). Créditos: Reprodução

Como é o movimento do choro e da música instrumental em Nova Lima? Há muitos chorões? Há uma velha guarda do choro em Nova Lima?

João: Sim, nós até produzimos uma homenagem ao Zé Fuzil [apelido de José Acácio de Assis Costa, que deu nome à Escola de Música], que é o patrono musical de Nova Lima. Ele regeu a banda da União Operária de Nova Lima por mais de 40 anos e fundou um grupo de choro na década de 70, chamado Ferro Velho. Tivemos contato com pessoas que tocaram com ele e todos falaram que ele tocava muito bem, que era um chorão muito bom. Nos relatos, as pessoas disseram que ficavam boquiabertas quando o ouviam tocar.


Existe uma velha guarda em Nova Lima, mas muito se perdeu por causa da tradição oral de transmissão das músicas e pelo fato da maioria das músicas serem tocadas de ouvido. Mas há também outros amigos nossos que são músicos e atuam até hoje. É o caso dos músicos Zé Felipe e Zé Lopes, que fazem parte dessa velha guarda e que compõem a Banda da União Operária. Inclusive, Zé Felipe foi amigo do Zé Fuzil e resgatou umas fitas dos ensaios e apresentações do grupo Ferro Velho.


E como o movimento do choro chegou à cidade recentemente?

Alice: Chegou o momento que nós dois, João e eu, decidimos fazer faculdade de música, então fomos morar em Belo Horizonte. Nesses últimos anos, explodiu o movimento de choro em BH e aconteciam várias rodas pela cidade.


Todos os dias da semana acontecia uma roda de choro em algum bairro e, às vezes, mais de uma roda no mesmo dia. Já cheguei a tocar em três lugares diferentes por semana. E como Nova Lima é muito perto de BH, uma coisa influencia na outra. Assim, BH tem muitos espaços para os músicos ocuparem e esse movimento já está avançando.


Acompanhe o trabalho do Choro de Lamparina pelas redes sociais: YouTube, Instagram e Facebook.

 

O Conto de todos os cantos sobre Nova Lima conta com o patrocínio da Vallourec via Lei de Incentivo à Cultura.

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