Nascida e criada em Lava Pés, zona rural de Jeceaba/MG, Ana Modesto adora costurar e realizar trabalhos manuais a partir de técnicas de reciclagem. No entanto, quando questionada sobre sua profissão, ela se identifica como agricultora.
Quando morava na roça, Ana plantava, colhia e ainda ajudava o seu pai a lidar com o forno de carvão que possuíam. Hoje em dia, além de trabalhar no campo, ela também faz parte da Associação das Mulheres Reunidas de A a Z (Amariaz), onde trabalha com Zezeca Matos, Dagmar Ferreira e outras artesãs.
Confira abaixo a entrevista feita pelos arte-educadores do Projeto Arte Por Toda Parte Jeceaba com Ana Modesto. Continue a leitura!
Quais trabalhos você faz como costureira?
Faço coisas pequenas e consertos em geral. Inclusive, teve uma vez que me pediram para fazer camisas e me assustei. Pensei: “Ai, Jesus! Nunca fiz isso para ninguém. Como vai ser?”. Mas no final deu tudo certo, fiz as camisas e ficaram muito boas.
E quanto ao trabalho com a reciclagem, quando você começou?
Desde que me mudei para Jeceaba, com o meu marido e os meus filhos, trabalhamos com reciclagem. Meu esposo e eu começamos catando lata nas ruas.
Depois, a gente fez um curso de artesanato com a Sarahy [agente social local] no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Lá aprendemos a trabalhar com sementes, fazendo quadros, e conhecemos as técnicas de decoupagem com filtro de coar café.
Daí, como uma coisa puxa a outra, participei de outro curso com um pessoal de Belo Horizonte que trabalhava com paletes. E aprendi a trabalhar com madeira reciclada: fazer estante de livros, mesa, suporte para televisão…
Além das latas, da madeira, das sementes e do filtro, quais outros materiais você utiliza?
Ô, eu faço um tiquinho de cada coisa... Mesmo sendo coisas pequenas, mexo com costura e artesanato, faço fuxicos e tapetes. Também gosto de consertar roupas: fazer bainha, pregar zíper, apertar calças e essas coisas no geral.
Uma vez, fiz até lembrancinhas com tampinhas de cerveja para o padre daqui. Eu encapava a tampinha com tecido, pregava um ímã de um lado, do outro lado uma imagem de um santo e pronto: virou um ímã de geladeira.
Qual a importância do trabalho com a reciclagem para a sua vida?
O trabalho com a reciclagem sempre representou uma renda extra para a minha família. Acredito que quando a gente recicla, tá evitando de poluir o mundo. E isso é importante porque a natureza tá reclamando.
E enquanto pegamos uma latinha que às vezes está jogada na rua, e que ia para o rio ou que podia entupir um canal, a gente tá evitando poluir mais. Então, vejo na reciclagem muita contribuição para a natureza.
Capino roça, faço cerca, roço pasto... Mas, na verdade, o que eu gosto mesmo é de costurar.
Você já chegou a fazer exposição do seu trabalho com a reciclagem?
Um tempo atrás, cheguei a expor guirlandas de cipó na Feira de Jeceaba e vendi muito. Era só o tempo de chegar em casa e a minha amiga, que ficava lá na tenda, já me ligava falando: “Ô, Ana, pode montar mais duas que já vendeu tudo aqui!”.
Você também faz parte da Amariaz. Como é participar da Associação?
Na Associação, a gente faz várias coisas: costura, artesanato... E, para mim, a costura é uma terapia. Sonho em ver aquela Associação mobilizada e andando, sabe? Falo com a Zezeca: “Quero que isso aqui vá para frente e bem rápido”.
Outra coisa que me preocupa muito é a necessidade de trazer adolescentes para a Amariaz. Isso porque vejo muitos adolescentes só na frente do telefone. Então sempre bato nessa tecla que a gente tem que conquistar essas meninas para elas aprenderem a fazer alguma coisa.
Você tem um sonho, uma meta para alcançar com seu trabalho?
A minha meta agora é levar a minha vidinha tranquila perto do meu marido e dos meus filhos. Sem me preocupar muito. Para mim, a felicidade para mim é ter onde dormir e ver meus filhos de barriga cheia.
O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).
Comments