Francyne Vieira, mais conhecida como Fran, faz parte do Apiário Zezinho Cardoso de Jeceaba/MG. O espaço é dedicado à produção de mel e própolis, que são transformados em diferentes produtos, como sabonetes, extratos e mel puro.
Iniciada pelo avô de Francyne, esta tradição deve seguir pelas seguintes gerações da família, sempre prezando pela sustentabilidade e pela preservação das abelhas. O objetivo é conviver harmonicamente com a natureza ao redor da criação deste inseto tão importante.
Leia abaixo a entrevista realizada pela arte-educadora Ana Malta com Fran e conheça mais sobre a história do Apiário!
Como você começou neste ofício? Conte um pouco sobre a sua história.
A história da apicultura na nossa família começa com o meu avô, em 1942, inclusive o nosso apiário tem o seu nome. Ele herdou essa propriedade que ainda é nossa do seu pai e trabalhava como agricultor, vivia do que a terra dava.
Ele retirava o mel e vendia uma parte junto com o que ele plantava e criava, no centro de Jeceaba. Geralmente era arroz, feijão, repolho, frutas e criação de porco, galinha… Ele plantava o tempo inteiro, com a ajuda da minha mãe e das minha tias.
Preservamos as árvores que ele plantou e muitas delas estão lá no terreno até hoje. Ele faleceu na década de 1970, ou seja, esteve por muitos anos à frente da apicultura local.
Fale mais sobre a história das abelhas: como funcionava a criação?
Até a década de 1950, as abelhas do Brasil eram as europeias, sem ferrão. Mas neste ano, um francês trouxe as abelhas africanas para cá com a intenção de fazer um experimento, mas elas fugiram e passou a ser predominante entre as outras espécies.
Hoje em dia, não existem mais as europeias e as abelhas têm ferrões. Inclusive, meus primos e irmão se lembram dos caixotes, mas dizem que tinham medo de tirar o mel dos caixotes por conta das ferroadas.
Já na década de 1990, meu irmão e meu primo quiseram voltar a lidar com a apicultura. Então, eles começaram a estudar com livros que compraram e fizeram vários testes. No início, foi muito difícil e aconteceram vários acidentes com eles pela falta de técnica. E isso impactava muito a nossa rotina, minha mãe às vezes não conseguia dar aulas, os animais morriam com o ataque dos enxames, etc.
A nossa família sempre prezou e preza pela preservação das espécies de abelha e pelo desenvolvimento sustentável do apiário. Não matamos as abelhas e deixamos favos para que elas possam se alimentar também.
E quando você passou a fazer parte do trabalho no Apiário?
A partir de 2017, passei a fazer parte da equipe junto com o meu irmão. Antes disso, eu até achava o trabalho interessante e o ajudava com uma ou outra coisa, mas tinha medo de tomar ferroada.
Na época, eu estava me formando em Engenharia de Produção e precisava de um tema para o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Então, comecei a perceber que ele precisava aumentar a produção, precisava de marketing e apoio, porque ele sabia fazer a parte operacional, mas não tinha técnicas de venda, preocupação com as embalagens, com os preços, com uma padronização.
Com isso, decidi que o meu tema seria voltado para o aumento da produção de própolis e mel no nosso sítio. E a partir do meu TCC, começamos a trabalhar o marketing, fizemos nosso registro de produtor rural e passamos a ser conhecidos na região.
Atualmente, quais são os produtos feitos por você?
Faço sabonetes artesanais com o própolis que extraímos no Apiário. Começamos com duas versões: uma com própolis e enxofre, e outra com mel e camomila. E como deu super certo, passei a estudar outras possibilidades e receitas.
Hoje em dia, temos muita demanda pelos sabonetes e clientes fixas que precisam deles para questões específicas de pele. Então, de uma a duas vezes por mês, vou para Jeceaba e faço a produção. Mas o lugar em que eu mais vendo é São João del-Rei, devido à uma prima minha que trabalha na Universidade Federal e me ajudou a chegar a mais pessoas.
O que você espera para o futuro do Apiário?
Desejo que a gente permaneça com o trabalho de apicultura de geração em geração. Pretendemos ensinar aos mais novos e manter essa tradição familiar.
Temos muita esperança que os investimentos que fizemos recentemente nos ajudem a aumentar a produção, sem deixar que os agrotóxicos destruam esse trabalho.
O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).
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