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Conto de todos os cantos: Paschoal Moreira Filho


A atriz Fernanda Nascimento (à esquerda) e o produtor de doces Paschoal Moreira (à direita) mostram um doce artesanal feito por ele.
À esquerda, a atriz e educadora Fernanda Nascimento, com Paschoal Moreira. Créditos: arquivo pessoal

Produtor de doces artesanais na comunidade do Aranha, em Brumadinho/MG, Paschoal Moreira ama o que faz e tem orgulho da tradição passada de geração em geração na sua família. Nascido em Carangola, foi criado em São Francisco do Glória, mas já fez suas andanças por diferentes partes de Minas Gerais e do Brasil.


Há 32 anos, vive em Brumadinho, onde conheceu sua esposa — Maria Aparecida — e criou seus três filhos: Paschoal Neto, Isabel e Gabriel. Além de produzir doces, ele também faz parte de movimentos sociais e atua em projetos comunitários.


Na entrevista realizada pelos artistas e educadores Fernanda Nascimento, Priscila Mathilde e Pablo Araújo, o produtor comenta a origem dos doces que faz e a importância do trabalho em sua vida e no sustento de sua família. Continue a leitura!


Potes com doce de goiaba produzidos pelo produtor de doces artesanal Paschoal Moreira e sua família.
Doces de goiaba produzidos por Paschoal Moreira e sua família. Créditos: arquivo pessoal

Como surgiu a ideia de fazer doces artesanais?

Sigo uma receita que está há mais ou menos 102 anos na minha família. Meus avós eram italianos e esta é uma tradição que foi passada para os meus pais e, depois para mim. De uns tempos para cá, estou tocando esse trabalho com os doces e a manutenção dessa história que me ajuda a manter e sustentar a minha família.


Como é a produção e a distribuição do doce?

Temos um terreno com goiabeiras no final da rua onde eu moro. Lá a gente cultiva e cuida das goiabas que vão virar goiabadas. Além disso, a gente trabalha com doce de leite e canudinho. Produzimos o canudo e industrializamos. Tudo é produzido aqui, e depois distribuído para a região. Mas também mandamos para muitos lugares fora do estado.


Tem muita gente que gosta de coisas caseiras e orgânicas, feitas com cuidado. Nosso doce é feito em tacho de cobre, e nele só vai açúcar e goiaba. E essas receitas dos doces de goiaba e de leite eu sigo há muito tempo. Nessa toada, a família vai caminhando.


Qual foi a primeira vez que você viu alguém fazer o doce?

A primeira vez que vi alguém fazendo doce, eu tinha 12 anos. Foi na casa da minha avó Alverina Laviola, que era italiana purinha, uma senhora baixinha, de olhos verdes. Ela estava ensinando meu pai a fazer. Então, fiquei curioso e fui ver. Eu vim acompanhando essa história de lá para cá. E com o tempo, fui fazendo e aprendendo.


Há outras lembranças de infância que você gostaria de contar?

Lembro que a minha avó fazia muitos doces: de figo, de laranja, de goiaba... E eu sou apaixonado por doce de figo! Ela costumava colocar eles em potes de vidro, de enfeite. E, quando íamos passear na casa dela e ninguém estava vendo, a gente dava umas voltinhas e ia lá no pote, colocava a mão para poder tirar os doces de figos e deixava respingar um pouco da calda no vidro e na mesa. Depois, a gente limpava em volta do vidro e da tampa, mas a mesa não. Daí, quando a avó aparecia, ela falava: “Tem um camundongo andando aqui...”. Olha como é a cabeça da criança: eu nem pensava que ela estava falando de nós, mas era que era a gente mesmo que tinha tirado.


Foto da paisagem rural da comunidade do Aranha, em Brumadinho/MG.
Terreno de Paschoal Moreira na comunidade do Aranha, em Brumadinho/MG. Créditos: arquivo pessoal

Por que você veio morar no Aranha em Brumadinho?

Andanças! Minha família é da região de Serra dos Moreiras, perto do Pico da Bandeira. Fui criado por lá, mas saí de casa aos 14 anos e fui andando mundo afora.


Morei muito tempo no Espírito Santo, vivi em Belo Horizonte... Depois, meu pai comprou uma propriedade na comunidade do Aranha e veio para cá. Nesta época, eu estava em Vitória/ES. Mas, antes de me mudar de vez, fiz uma parada em Nova Serrana/MG, onde morei por 5 anos, vendendo calçados. Depois eu vim para cá, e aqui devagarzinho levando a vida.

Fale um pouco mais sobre o seu trabalho com a comunidade.

Como cidadão de Brumadinho, gosto de fazer coisas junto com o povo daqui. Já fiz parte da primeira comissão do Conselho Municipal de Saúde, do Conselho de Saúde Bucal, do Conselho da Criança e do Adolescente, e da posse do Conselho Tutelar. Se você procurar nas atas de fundação, vai ver que meu nome está em todas!


Além disso, faço parte da Associação dos Produtores Rurais há 25 anos e já fui presidente dela por 6 anos. Eu gosto do que é pequeno, não faço muita questão de coisa muito grande. Prefiro ficar do meio para baixo. Do meio para cima, a gente começa a esbarrar na hipocrisia e na insensatez, o que te faz cair no egoísmo. Então, com 62 anos esse foi o caminho que adotei aqui, caminhando junto com a comunidade.

Como é ter a família produzindo em conjunto?

A família vai aprendendo a conviver junto, cada um no seu quadrado, fazendo a sua parte. Tenho certeza que a minha família tem muita disciplina. E eu tenho muito orgulho deles. São pessoas totalmente livres, fazem o que querem, trabalham com o que querem e me ajudam a manter essa tradição do doce. Sou muito feliz porque estão todos à minha volta.


É importante construir algo que possa ser desfrutado agora, respeitando a individualidade de cada um. E para que serve a vida, se você não vive a vida junto das coisas que você ama, que você quer?


Dessa vida a gente não leva nada — dinheiro e roupa você não leva para o cemitério. A gente leva o que a gente vive. E esse é meu pensamento que quero passar para meus filhos e para minha esposa. Assim, vou levando uma vida muito feliz: com minha família e meus doces.


Para acompanhar o trabalho da família Moreira, acesse o Facebook e o Instagram da Moreira Doces Artesanais.

 

O Conto de todos os cantos sobre Brumadinho conta com o patrocínio da Vallourec via Lei de Incentivo à Cultura, e com o apoio do Comitê Local de Piedade do Paraopeba e da Associação dos Moradores da Comunidade de Suzana (AMOCOS).


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