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Conto de todos os cantos: Cecília Gobbo e Lenine Lopes


Há dois homens e três mulheres na varanda de uma casa.
No meio da foto, Cecília e Lenine, com os arte-educadores do APTP Brumadinho. Créditos: Teatro da Pedra

Moradores do bairro de Suzana, em Brumadinho/MG, o casal Cecília e Lenine tem se dedicado à cerâmica e produzido peças a partir de diferentes técnicas e experimentações.


Utilizando materiais regionais, a confecção das peças é feita na casa dos dois, incluindo o processo de queima. Este acontece em um forno que eles construíram durante a pandemia.


Conheça o trabalho de Cecília e Lenine na entrevista realizada pelos arte-educadores Priscila Mathilde, Fernanda Nascimento e Pablo Araújo!



Como surgiu a tradição em relação à cerâmica na região?

Cecília: Em 2006, uma japonesa descobriu algumas peças de cerâmica indígenas na propriedade dela. E, como havia um barreiro muito bom aqui, ela começou a desenvolver o trabalho e construiu um forno noborigama. Com isso, ceramistas da região começaram a vir aprender com ela. Inclusive, ainda há algumas pessoas que têm esse modelo de forno e fazem o trabalho que ela começou. Hoje em dia, há mais de 20 ceramistas na região.


Há quanto tempo vocês têm interesse pela cerâmica?

Lenine: Há muitos anos tenho vontade de mexer com cerâmica. Já tinha feito os cursinhos de cerâmica há um tempo. Mas, como eu tinha que trabalhar, fui deixando para depois. No ano passado, com a pandemia, tivemos a oportunidade de pôr isso em prática e começamos a introduzir a cerâmica na nossa vida diária.


E quando vocês começaram a trabalhar com cerâmica?

Cecília: Há dois anos começamos a desenvolver um trabalho de pesquisa e experiência com a cerâmica. Com a pandemia, tivemos que ficar isolados. Então, construímos um ateliê com forno à lenha, que era um desejo antigo do Lenine.


Aqui em Brumadinho, conhecemos o Benedict, ceramista que tem um ateliê próximo a onde moramos. Ele tem auxiliado muito na nossa formação, seja em relação a novas técnicas ou na construção dos fornos.


Na foto há quatro vasos de cerâmica em diferentes formatos e cores.
Peças feitas pelo casal na varanda de sua casa. Créditos: Teatro da Pedra

Como funciona o processo de fabricação das peças?

Lenine: Eu pego a argila, coloco em uma caixa com água, misturo bem e coloco em um tambor. Quando ele enche, a gente pega argila que está muito mole e a seca em uma placa de gesso. Cada argila se comporta de um jeito.


Cecília: É importante tirar todas as impurezas, deixar a argila de molho e peneirar até ela ficar fininha para poder trabalhar. Fazemos um teste para ver se está dando estrutura para as peças. Na sequência, é dado um acabamento e feita a primeira queima, de até 850ºC. Depois, colocamos o esmalte e fazemos uma segunda queima, que vai até aproximadamente 1280ºC, dependendo do esmalte.


Qual a origem dos materiais que vocês utilizam?

Lenine: Utilizamos argila da região, que é muito rica em ferro. Devido a isso, depois de queimada ela fica muito bonita, fica mais escura. Já quando precisamos de pouca quantidade, a gente busca aqui perto do Rio Manso. Sempre procuramos usar as argilas da região.


Cecília: Usamos pigmentos que encontramos aqui mesmo como, por exemplo, uma pedra do sítio que a gente mói e mistura na argila para dar cor. Também fazemos os detalhes das peças com folhas do nosso quintal. Moldamos a folha em uma placa e depois queimamos. É um trabalho bacana, que gostamos e que pode ser feito com crianças.



Vocês já conheciam a região de Suzana antes de virem morar aqui?

Cecília: Há muito tempo nós vínhamos fazer caminhada aqui no Topo do Mundo…


Lenine: Antigamente, eu fazia parte de um grupo de teatro, e um dos meus colegas era dono de um terreno aqui. Daí, teve um dia em que ele falou que estava vendendo um pedaço do terreno e trouxe a gente para conhecer. Nós nos olhamos, encantados com o lugar e falamos: é aqui o nosso lugar! Desde então, não teve jeito, ficamos aqui direto.


A Encosta da Serra da Moeda é realmente muito bonita. Brumadinho é um município interessante. Além da cidade, também há muitos povoados e cada povoado tem a sua identidade. — Cecília Gobbo

E há quanto tempo isso aconteceu?

Cecília: Nós adquirimos essa propriedade há 15 anos, e a nossa intenção era nos aposentarmos e virmos para cá. Assim que nos aposentamos, há uns quatro anos, a gente tem ficado direto aqui. Não pretendemos sair daqui porque é um lugar maravilhoso!


Vocês pensam em comercializar as peças ou têm outras ideias para a cerâmica?

Cecília: Até hoje, a gente tem feito muitas experimentações, não estamos muito preocupados com comercialização ainda. Estamos experimentando para saber o caminho que vamos seguir. A nossa ideia é receber pessoas, para que elas venham fazer uma peça, conhecer a queima e ver como é todo o processo.

 

O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).


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