Nascida, criada e moradora de Piedade do Paraopeba, em Brumadinho/MG, Maria Benigna de Lima Silva, mais conhecida como Nina, é apaixonada pelo distrito.
Artesã e participante do Coral Vozes do Vale do Paraopeba, ela conta sobre suas memórias de infância na região e sobre sua emocionante relação com os trabalhos manuais.
Veja abaixo a entrevista feita pelos arte-educadores Fernanda Nascimento, Priscila Mathilde e Pablo Araújo para conhecer mais sobre Nina. Leia a seguir!
Conte um pouco sobre a sua história.
Nasci aqui e, na minha época de criança, não tinha luz nem água encanada. A água vinha de um rego, que passava perto da nossa casa. A gente vivia de plantações no nosso terreno.
Nossa família também era muito religiosa, na verdade toda a comunidade. Então, tinha as festas da Igreja e a gente sempre participava. Minha mãe, Maria Beatriz, teve doze filhos e nos criou muito unidos. A gente não tinha muito conforto, mas era todo mundo muito feliz.
O que a gente mais fazia era brincar. A rua era só nossa, juntava uma porção de crianças e fazia uma roda de todo tamanho à noite. Uma hora cantando muito, outra hora pulando corda. Tudo quanto era brincadeira a gente fazia, pique-esconde, barra manteiga, corrida... Era muita coisa!
Quais memórias de infância você tem de Piedade?
Me lembro bem de uma música de roda que a gente cantava nesse tempo:
“Nesta rua tem um bosque, que se chama que se chama solidão...
Dentro dele, dentro dele mora um anjo...
Que roubou que roubou meu coração.
Se eu roubei, se eu roubei seu coração...
É porque tu roubaste, tu roubaste o meu também...
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É por que é por que te quero bem.”
Outra coisa que nos divertia muito aqui em Piedade era um grupo de ciganos que vinha para cá, se instalava onde é a praça hoje e armava uma barraca, onde eles faziam apresentações circenses e colocavam alguns brinquedos de parque. Essa era nossa diversão.
Como você começou a pintar?
A vida inteira me atrevi a aprender muitas coisas. Desde muito nova comecei a pintar em tecidos, fiz um curso e depois comecei a vender as pinturas. Nessa época, também fiz muitas peças de crochê e tricô: blusas, toucas, toalhas, caminhos de mesa, panos de prato...
Depois comecei a fazer peças íntimas, e durante um bom tempo esse foi o meu trabalho em casa. Tive um bom êxito!
Quem foi a pessoa que te ensinou e inspirou a fazer o trabalho manual?
Minha avó, Alice Olímpia, quando eu era criança. Eu tinha menos de oito anos quando a via fazendo sapatinhos de tricô e aprendi a fazê-los. Mas, com o passar do tempo, fui me esquecendo.
Quando já estava adulta, resolvi resgatar isso. Procurei uma professora, e quando eu fiz a primeira peça, vi que não tinha me esquecido, o que ela me ensinou ainda estava guardado comigo.
Conte um pouco sobre os quadros.
Meu sonho era pintar um quadro, nem que fosse só um! E os quadros vieram na época mais difícil da minha vida. Eu já tinha ido em aulas de pintura, mas depois que meu esposo faleceu, tive um professor chamado Antônio Maia, que era de Marques [bairro de Brumadinho].
Para não adoecer, comecei a pintar e foi o que me ajudou a não cair.
Porque quando a gente tem uma companhia, alguém com quem nos damos bem e a gente perde uma pessoa que ama, é preciso se segurar para não cair. E foi a arte que me segurou. Fiz muitos quadros. Também participei das feirinhas que produzimos em Piedade e, aqui, eu vendia muita coisa. Posso dizer que já fiz e vivi muitas coisas boas e especiais!
Conte sobre sua participação no Coral Vozes do Vale do Piedade.
Canto no Coral há uns sete anos. Há vários anos, a gente canta no Festival Internacional de Corais — FIC. Nos reuníamos e viajávamos regularmente antes da pandemia. Mas, devido à pandemia, tivemos que dar uma pausa e só agora estamos voltando.
Cantamos muitas músicas, e eu me sinto repleta quando estou cantando uma música que emociona. Desde criança, me sinto muito feliz cantando. Cantei muito tempo na igreja, nas rodas com as minhas colegas na coroação, e agora me atrevo no coral.
No Coral de Piedade, a gente canta vários estilos: música sacra, popular, de seresta, de criança. Nossa regente é a Tânia Caramaschi e, recentemente, ela trouxe para nós um repertório africano, que estou gostando muito!
O Conto de todos os cantos sobre Brumadinho conta com o patrocínio da Vallourec via Lei de Incentivo à Cultura, e com o apoio do Comitê Local de Piedade do Paraopeba e da Associação dos Moradores da Comunidade de Suzana (AMOCOS).
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