Formado pelas irmãs Íris e Margarete da Piedade Moreira, o Aprendendo no Quintal foi iniciado em agosto de 2016, na comunidade de Piedade do Paraopeba, em Brumadinho/MG.
Com o objetivo de ensinar crianças e adolescentes da localidade a cuidar de plantas e hortas, além de conscientizar a população local sobre a importância da alimentação, o projeto foi criado após a morte da mãe das fundadoras e da descoberta, por parte de Margarete, de um câncer de mama.
Na entrevista abaixo, é possível compreender a história do Aprendendo no Quintal e a importância dele para os moradores de Piedade. A conversa foi feita pelos arte-educadores Fernanda Nascimento, Pablo Araújo e Priscila Mathilde, confira!
De onde surgiu a ideia de fazer este projeto?
Tudo começou quando nossa mãe faleceu, em 2015, e nós duas ficamos sozinhas para resolver todas as coisas. E eu, Margarete, tive um diagnóstico de câncer de mama, que foi um desafio. Quando comecei o tratamento, as coisas foram mudando e eu precisava tirar força de algum lugar. Na verdade, nós duas precisávamos de algo para não entrarmos em depressão.
Meu pai, João Leocadio Moreira, plantava na roça. Com ele, a gente aprendeu a gostar da terra. Desde pequenas, íamos para a serra onde ele plantava e buscávamos água para regar a horta. Então, começamos a usar a nossa horta, a plantar de tudo como atividade diária.
Partindo disso, nos veio essa ideia de apresentar o nosso jeito de cuidar das plantas e da natureza para as crianças e os jovens que sempre estavam aqui. Criamos então o projeto em agosto de 2016, e demos o nome de Aprendendo no Quintal, porque estamos sempre aprendendo e vendo coisas novas.
Além do plantio e cuidado com as plantas, vocês propõem outras atividades?
Sim. Nesse tempo, nós também aprendemos a produzir sal temperado e aromatizado com ervas finas. E a partir daí, a gente já fez várias palestras falando sobre a importância da alimentação no tratamento do câncer, incentivando as pessoas a não desistirem. Além disso, também falamos sobre a utilização do sal para melhorar a imunidade, porque ele é feito com ervas naturais que a gente planta no nosso quintal.
Como é feito o sal aromático?
O sal é elaborado com ervas finas e orgânicas. As ervas são colhidas, higienizadas e desidratadas. Depois, elas entram para um processo de refinamento. Os conteúdos são elaborados e pesados com a mesma medida.
Algumas ervas utilizadas são: salsinha, cebolinha, orégano, manjericão roxo, tanchagem, cominho, açafrão, alho poró, folhas de alho comum, folhas de alho ceciliano e loro.
Vocês poderiam comentar sobre o trabalho com as crianças e as atividades realizadas?
Antes da pandemia, as crianças vinham a semana inteira. Quem estudava à tarde vinha de manhã e quem estudava de manhã vinha à tarde. Cada semana fazíamos uma coisa: tinha roda de conversa, dia de mexer na terra, dia de aprender a costurar e a bordar e, principalmente, aprenderem a plantar, cultivar e cozinhar.
O cuidado com alimentação é a atividade principal neste projeto. A aula de culinária aqui é diferenciada porque temos uma cozinha experimental e falamos sobre o reaproveitamento de alimentos. As crianças precisam aprender que o Brasil é muito rico, mas tem gente passando fome. Isso é falta de conhecimento e de cuidado com a comida e com a natureza. Então, a gente ensina vários pratos, sucos, chás, sorvetes, e reaproveitamento de folhas e cascas.
Temos que estar juntas de quem está chegando, que ainda é pequeno para que eles possam entender de sensibilidade, de cuidado e para que possam cuidar de si mesmos e dos outros. E é muito importante fazer valer a pena esses momentos, com disciplina e amor. Começamos com duas crianças e hoje temos 20 crianças e jovens. Aqui eles viram irmãos.
A gente passou por um processo de vida que nos trouxe até aqui. E o que a gente faz é para o mundo.
Como é estar com as crianças e jovens na casa de vocês?
Nós viramos duas personagens, o encontro com as crianças vira um programa em que a gente começa a brincar. E cada hora é uma coisa diferente, divertida.
Quando o trabalho é feito com honestidade e simplicidade, vira uma riqueza para as crianças que vêm aqui. Pode parecer que o trabalho é difícil, mas fica fácil. O sonho das crianças é ficar aqui no nosso quintal.
Como é esse processo de vocês trabalharem juntas?
Não existe o Aprendendo no Quintal sem Íris ou sem a Margarete. Ele é um projeto das duas. Cada uma dá o melhor que sabe. Sempre dividimos as funções. É uma divisão natural. Uma completa a outra.
Somos muito felizes e temos um lema: desistir é mentira e continuar é verdade. Nós fomos escolhidas para isso. Não fazemos as coisas à toa. Pode cair canivete lá fora, mas o Aprendendo no Quintal é nosso. Seja muito, ou seja pouco, isso aqui é nosso. Nós fizemos isso tudo, desempregadas, mas nem por isso nós paramos.
Como as pessoas de Piedade veem o Aprendendo no Quintal?
Todo mundo tem muito respeito pelo nosso trabalho. As crianças e os pais têm muito respeito. Isso é muito gratificante, muito rico. Receber o respeito é muita riqueza.
O Conto de todos os cantos sobre Brumadinho conta com o patrocínio da Vallourec via Lei de Incentivo à Cultura, e com o apoio do Comitê Local de Piedade do Paraopeba e da Associação dos Moradores da Comunidade de Suzana (AMOCOS).
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