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Conto de todos os cantos: Aline Monteiro


Aline é tecelã e moradora da comunidade do Lava Pés, em Jeceaba/MG. Créditos: arquivo pessoal

Moradora da comunidade Lava Pés, em Jeceaba/MG, Aline Monteiro é tecelã e mantém viva a tradição da fiação artesanal que está na sua família há gerações. Apaixonada pelo que faz, começou no ofício ainda criança e aprendeu diversas técnicas ao longo da vida.


Hoje em dia, Ana produz colchas, tapetes e jogos de mesa para a região onde vive e para outras cidades de Minas Gerais. E afirma que a partir do trabalho como tecelãs que as mulheres da sua família se sustentaram.


Leia abaixo a entrevista realizada com Aline pelos arte-educadores Ana Malta, Priscila Mathilde e Gustavo Rosário, do Arte Por Toda Parte Jeceaba!



Como começou a sua história com a tecelagem?

Tudo teve início na comunidade do Arrojado — que liga Belo Vale a Jeceaba —, onde as minhas avós e tias retomaram o ofício da produção artesanal, que é passado de mãe para filha. Elas faziam colchas, tapetes e trabalhavam com roda de fiar, que era malharia de algodão.


Com o desenvolvimento das indústrias na região, o trabalho das tecelãs e das fiadeiras desapareceu. Como nós tínhamos a roda de fiar, saímos da roça com destino à estrada da Boa Morte, que faz ligação com Jeceaba


Quando eu era criança, meu avô plantava algodão no troia e minha avó fazia roupas a partir da linha fiada. Depois que a gente colhia o algodão, retirava as impurezas da semente à mão ou com um descaroçador. E a sobra era vendida aos vizinhos e ao comércio.


Aprendi a fiar, tecer e bordar ainda menina e sempre gostei. Aos poucos, também fui aprendendo a costurar e gosto muito de fazer jogos de tapetes.

Tear citado por Aline na entrevista. Créditos: arquivo pessoal

E como funcionavam esses processos com o algodão?

Esse descaroçador era uma moenda, que tinha um cilindro de madeira. Depois de passado por ele, transformava-se o chumaço de algodão em uma espécie de pluma. Na sequência, havia os pares de cardeais, que eram pés de madeira com pente de aço, no estilo do tear.


O puxador alinhava o algodão e os pentes de modo que as fibras não embaraçassem, e o segredo era deixar torcer para fiar e formar o fio.


Cada mulher carregava a sua própria roda e algumas de nós íamos de carroça até chegar no destino, no Galpão do Sandi, que ligava a comunidade do Arrojado a Jeceaba.


Nós nos sentávamos em círculos e essas rodas se movimentavam, num barulho de “rec rec”. Era um som contínuo, das batidas dos pés nos pedais e das rocas no tear, nesse processo que transformava o algodão em fios.


De onde veio a vontade de manter esta tradição familiar?

Mantive viva a tradição da fiação manual e da tecelagem porque é algo que minha família preserva há anos. Além disso, a fabricação de colchas e tapetes garantiu o sustento da família.


Quando a maioria das pessoas vê uma peça pronta para vender, reconhece o trabalho com os fios, e eu tenho muito orgulho disso: de resgatar uma origem da minha família, um trabalho tradicional. É algo que quero passar para os meus filhos.



Atualmente, como é o seu trabalho?

Moro no Lava Pés, zona rural de Jeceaba, e vou para Entre Rios, porque o material vai para lá e é onde a gente tece. Há um galpão onde além de nós, também tecem meninas da Cachoeira dos Forros [comunidade quilombola em Passa Tempo/MG]. e Fazemos parte de uma cooperativa que atua como um braço comercial das artesãs da região.


Além disso, também teço em casa e fiz parceria com uma antiga sócia de Resende Costa. Então, entrego meus produtos para as cidades de Conceição do Mato Dentro e de Bonfim.

Hoje em dia, o desafio da roda de fiar vem pela falta de algodão. Com isso, a gente passou a trabalhar só com o próprio tear, fabricando colchas, tapetes e jogos.

 

O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).

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